A ultrafiltração é uma tecnologia-chave no tratamento de águas de reuso e efluentes industriais. Apesar de sua aparente simplicidade, a operação de sistemas de ultrafiltração é fortemente influenciada por interações coloidais e composição da água de alimentação. Este artigo explora a influência do potencial zeta, da agregação coloidal e da química da matéria orgânica na eficiência da filtração e propõe estratégias de pré-tratamento químico adaptativo baseadas em diagnóstico em linha. A utilização de ferramentas como EEM-PARAFAC é abordada como caminho para antecipar e mitigar as incrustações.
A operação de unidades de ultrafiltração é frequentemente comprometida pela deposição de partículas coloidais, biopolímeros e matéria orgânica natural (MON). Tais componentes não apenas bloqueiam os poros, como também formam camadas compressíveis de sólidos, que elevam a perda de carga e reduzem a eficiência da retrolavagem. O estudo dos coloides aplicado ao controle da alimentação se apresenta como uma fronteira tecnológica essencial para a manutenção da performance do sistema ao longo do tempo.
Coloides hidrofílicos e organominerais com carga superficial negativa tendem a formar sistemas instáveis em presença de cátions divalentes (Ca²⁺, Mg²⁺, Fe³⁺), resultando em agregados densos. A compressibilidade dessas estruturas impacta diretamente a formação da camada de sólidos. O potencial zeta abaixo de -20 mV sugere instabilidade coloidal e maior risco de colmatação.
O EEM-PARAFAC é uma técnica analítica usada para identificar e quantificar diferentes tipos de matéria orgânica dissolvida na água com alta precisão. Primeiro, a EEM (Excitation-Emission Matrix) coleta dados de fluorescência da amostra ao variar os comprimentos de onda de excitação e emissão, formando uma matriz tridimensional que revela compostos fluorescentes como proteínas, ácidos húmicos e fúlvicos. Em seguida, a técnica PARAFAC (Parallel Factor Analysis) decompõe essa matriz em componentes independentes, permitindo distinguir e quantificar cada tipo de composto presente. Isso é especialmente útil no tratamento de água, pois ajuda a prever e controlar o incrustaçãoem membranas de ultrafiltração ao indicar quais frações da matéria orgânica estão mais propensas a causar obstruções.
A análise tridimensional de fluorescência associada a modelagem por PARAFAC permite identificar as frações fluorescentes da matéria orgânica (ex. substâncias húmicas, proteínas solúveis, ácidos fúlvicos). Tais informações orientam decisões de dosagem e CIP, além de antecipar tipos de incrustação.
A estabilidade operacional da ultrafiltração depende de um entendimento profundo das interações coloidais e da natureza química da água de entrada. O uso de pré-tratamentos adaptativos, aliado a técnicas avançadas de diagnóstico, como EEM-PARAFAC, representa um novo paradigma no controle da incrustação. Sistemas que incorporam essas abordagens não apenas operam por mais tempo com menor perda de carga, como também demandam menos intervenções manuais, reduzindo OPEX e aumentando a confiabilidade.
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Autor: Joaquim Marques Filho, M.Sc.