Operação e Manutenção de Equipamentos de Ultrafiltração

1. Introdução

O processo de ultrafiltração é amplamente reconhecido pela sua capacidade de oferecer uma barreira física eficaz contra contaminantes microbiológicos e partículas sólidas, sendo uma etapa estratégica em diversas cadeias de tratamento. Embora a eficiência do sistema não dependa apenas do dimensionamento ou da qualidade das membranas, ela torna-se essencialmente dependente da sua operação diária e da manutenção preventiva.

A compreensão dos procedimentos de manutenção e operação é crítica para operadores, engenheiros e administradores de estações de tratamento, a fim de minimizar falhas, reduzir custos operacionais e prolongar a vida útil do sistema.

2. Operação de Sistemas de Ultrafiltração

2.1 Comissionamento

O comissionamento é a preparação para o início da operação. Nesta fase, o pré-tratamento deve estar funcionando plenamente, pois a qualidade da água de alimentação é essencial para a estabilidade da ultrafiltração. Simultaneamente, sistemas auxiliares como drenagem, bombas e automação devem passar por testes prévios, com instrumentos devidamente calibrados.

Entre os elementos essenciais, destaca-se o flushing (lavagem) das tubulações antes da instalação dos módulos, a fim de evitar a entrada de sólidos ou contaminantes que possam danificar as fibras. Também é necessário verificar a ausência de vazamentos e garantir que todos os produtos químicos necessários para a operação estejam carregados.

2.2 Partida (Startup)

A partida do sistema é feita com procedimentos graduais e controlados. Recomenda-se operar o sistema, durante as primeiras 24 horas, com 50% da vazão de projeto, reduzindo o esforço sobre as membranas recém-instaladas. A partida começa em modo manual, permitindo ajustes finos de válvulas e pressões.

Nesta etapa, o sistema deve ser preenchido com água, realizando o flushing com drenos abertos, nesse momento acontece a “lavagem” das membranas para remoção da solução de glicerina e metabissulfito utilizada para conservação, notar que a água desta etapa não deve ser aproveitada.

Na sequência testar as bombas de retrolavagem (backwash) e ajuste da pressão de ar. Caso os parâmetros estejam satisfatórios, a operação pode ser transferida para o modo automático, garantindo padronização e segurança.

2.3 Operação Regular

Após o período inicial, a vazão é gradualmente ajustada até o valor nominal de projeto. Entre as rotinas fundamentais, destacam-se:

  • monitoramento em tempo real dos níveis dos tanques de armazenamento e dos estoques de produtos químicos;
  • registro dos parâmetros operacionais como pressão de entrada e saída, vazão do permeado, turbidez e frequência de retrolavagem;
  • cálculo periódico de indicadores como fluxo, pressão transmembrana (TMP) e recuperação do sistema. Esse monitoramento permite prever desvios e responder antes que o desempenho do sistema seja comprometido.

3. Manutenção de Sistemas de Ultrafiltração

3.1 Armazenamento e Conservação dos Módulos

Uma vez aberta a embalagem, os módulos devem ser mantidos húmidos, sob risco de secagem das membranas e perda de suas características filtrantes. Durante o armazenamento, recomenda-se que fiquem em local protegido contra luz solar direta, superaquecimento e congelamento, respeitando a faixa de 1 °C a 40 °C.

Módulos em uso podem permanecer cheios de água por no máximo quatro dias durante paradas. Para períodos mais longos, recomenda-se a hibernação por imersão em solução de metabissulfito.

3.2 Limpeza Química (CIP)

O Clean-in-Place (CIP), ou limpeza química, deve ser realizado quando a TMP aumentar cerca de 1 bar em relação ao valor inicial. Trata-se de um procedimento manual, normalmente realizado em dois ciclos: alcalino e ácido.

  • Ciclo alcalino: uso de hidróxido de sódio (pH 9–10) em conjunto com hipoclorito de sódio em concentração de até 3.000 mg/L.
  • Ciclo ácido: uso de ácido clorídrico (pH 2–3) ou ácido cítrico (30.000 mg/L).

Nota: recomenda-se observar as recomendações de cada fabricante de membrana em relação às soluções para CIP e tolerâncias de pH.

Cada ciclo deve durar pelo menos duas horas. É importante lembrar que nunca se deve misturar hipoclorito com ácido, pois pode gerar gás cloro, altamente tóxico. O CIP é essencial para remoção de incrustações (fouling) e recuperação da permeabilidade.

3.3 Testes de Integridade

Os testes de integridade garantem a estanqueidade das fibras e podem ser realizados in situ (no local) ou com os módulos removidos. O procedimento padrão envolve: drenagem dos módulos;

  • pressurização com ar no lado da alimentação;
  • fechamento da entrada de ar;
  • monitoramento da queda de pressão por 10 minutos.

Alternativamente, em módulos fora do skid, o teste consiste na imersão em um recipiente com água e observação da formação de bolhas, o que indica fibras danificadas.

3.4 Reparo de Membranas

Quando são detectadas quebras localizadas nas fibras, recomenda-se o tamponamento usando linhas de náilon ou pinos plásticos com diâmetro ligeiramente inferior ao da fibra, fixados com cola específica fornecida pelo fabricante. Esse procedimento permite prolongar a vida útil do módulo, desde que o número de fibras comprometidas seja pequeno.

Ressalta-se que nunca se deve usar ar comprimido na limpeza ou reparo das membranas, sob risco de danos irreversíveis.

4. Discussão

A operação e manutenção adequadas das unidades de ultrafiltração estão diretamente relacionadas à eficiência, confiabilidade e sustentabilidade da tecnologia. Um comissionamento bem feito evita falhas prematuras; a partida gradual permite a adaptação das membranas; e o monitoramento contínuo fornece alertas precoces em caso de desvios nas condições operacionais.

Em termos de manutenção, o cumprimento das recomendações de armazenamento e preservação química evita degradação prematura. A restauração periódica por CIP recupera a permeabilidade e prolonga a vida útil dos módulos. Os testes de integridade e reparos localizados complementam a estratégia de manutenção, garantindo a continuidade do processo mesmo diante de falhas pontuais.

Tais procedimentos, se realizados de forma padronizada, reduzem os custos operacionais, asseguram a qualidade do permeado e tornam os sistemas de ultrafiltração mais competitivos em relação aos métodos convencionais de tratamento.

5. Conclusão

A ultrafiltração é uma tecnologia robusta, mas exige rigor em sua operação e manutenção para alcançar todo o seu potencial, a longevidade e eficiência do sistema dependem, essencialmente, da aplicação de práticas operacionais controladas e de estratégias de manutenção preventiva, corretiva e preditiva. Isso reforça a necessidade de capacitação técnica contínua de operadores e engenheiros, bem como da implementação de protocolos de gestão adequados, alinhados às recomendações dos fabricantes e às características específicas de cada instalação.

Referência

MARQUES FILHO, J. Ultrafiltração para tratamento de água e reúso – Curso Online. Hotmart, 2021.

Autor: Joaquim Marques Filho, M.Sc.

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