Osmose reversa é uma tecnologia amplamente utilizada em processos de tratamento de água e efluentes, com aplicação em diversas indústrias, desde a produção de água potável até a dessalinização e o tratamento de águas residuais. A eficiência e a longevidade de um sistema de osmose reversa dependem fortemente de um acompanhamento operacional rigoroso, que permita identificar e corrigir problemas antes que eles causem danos significativos aos componentes do sistema, como as membranas. Para isso, uma prática essencial é a utilização de dados normalizados, que permite comparar o desempenho ao longo do tempo e identificar desvios de operação.
A normalização de dados é um processo que ajusta as medições reais de operação (como fluxo de permeado, rejeição de sais e pressão diferencial) para condições padrão, de modo que os efeitos das variações de temperatura, pressão e composição da alimentação sejam eliminados. Este processo permite que as medições sejam comparáveis ao longo do tempo, facilitando a detecção de alterações no desempenho do sistema.
Por exemplo, o fluxo de permeado de uma membrana de osmose reversa é altamente dependente da temperatura da água de alimentação. À medida que a temperatura aumenta, o fluxo também tende a aumentar, devido à menor viscosidade da água. No entanto, esse aumento de fluxo não deve ser interpretado como uma melhora no desempenho do sistema, mas sim como uma resposta natural à mudança de temperatura. A normalização ajusta este valor para que ele reflita o que seria esperado sob condições padrão, permitindo uma avaliação mais precisa do desempenho real.
O monitoramento operacional utilizando dados normalizados começa com a coleta regular de dados operacionais, incluindo pressão de entrada e saída, fluxo de permeado, concentração de sais no permeado e no concentrado, e temperatura da água de alimentação. Estes dados são então utilizados para calcular os valores normalizados.
A equação de Darcy, que relaciona o fluxo de permeado com a pressão diferencial, pode ser ajustada para normalizar o fluxo de permeado:
Este cálculo é repetido para outras variáveis, como a rejeição de sais, para garantir que todas as métricas de desempenho sejam comparadas de maneira consistente. A partir desses valores normalizados, é possível identificar padrões ou tendências que indiquem a degradação do desempenho das membranas, como a incrustação (scaling) ou deposição (fouling).
Para normalizar a pressão diferencial, deve-se ajustar a pressão medida para as condições de referência. A equação de normalização da pressão diferencial geralmente considera a temperatura da água, já que ela afeta a viscosidade e, portanto, a resistência ao fluxo através da membrana.
A equação para a pressão diferencial normalizada pode ser expressa como:
Uma vez que os dados foram normalizados, a interpretação se torna mais direta. Desvios significativos nos valores normalizados em relação aos valores de referência podem indicar problemas no sistema. Por exemplo:
- Diminuição do fluxo de permeado normalizado: Pode indicar incrustação nas membranas, deposição ou problemas mecânicos, como a obstrução dos elementos da membrana.
- Aumento da pressão diferencial normalizada: Geralmente associado à deposição ou incrustação, resultando em uma maior resistência ao fluxo de água através das membranas.
- Redução na rejeição de sais normalizada: Pode sugerir a degradação da membrana, permitindo que mais sais passem pelo sistema.
Essas tendências devem ser monitoradas de perto, e ações corretivas devem ser implementadas assim que as anomalias forem detectadas. Isso pode incluir a limpeza química das membranas, ajustes no pré-tratamento da água de alimentação ou, em casos mais graves, a substituição das membranas.
Os dados normalizados podem ser utilizados para identificar a necessidade de realizar CIP (cleaning in place) conforme os seguintes critérios:
- Redução de 10% no fluxo de permeado normalizado.
- Aumento de 15% na diferença de pressão normalizada.
- Redução de 10% na rejeição de sal normalizada.
Em relação a utilização de dados normalizados para acompanhamento operacional de sistemas de osmose reversa podemos concluir que:
- Prática fundamental para garantir longevidade e eficiência de sistemas de osmose reversa.
- Elimina variações de temperatura, pressão e composição da alimentação.
- Permite avaliação precisa do desempenho ao longo do tempo.
- Ajuda a identificar problemas antes de se tornarem críticos.
- Otimiza custos operacionais, minimizando desgaste prematuro das membranas.
- Reduz a necessidade de manutenções emergenciais.
- Critério objetivo para realização de CIP.
Autor: Joaquim Marques Filho, M.Sc.