Controle de Deposição e Estratégias de Limpeza em Sistemas de Ultrafiltração

Introdução

Os sistemas de ultrafiltração são amplamente empregados no tratamento de água potável, efluentes e no preparo de água para processos industriais, graças à sua capacidade de remover sólidos suspensos, coloides, macromoléculas orgânicas e partículas microbianas. No entanto, um dos desafios operacionais mais significativos é o fenômeno de deposição – isto é, a deposição ou adsorção de materiais na superfície ou dentro dos poros da membrana, que reduz o fluxo/permeado, aumenta a resistência hidráulica e eleva a pressão transmembrana (PTM).

Para manter a operação eficiente, é fundamental estabelecer um plano de controle de deposição e de limpeza (tanto física quanto química), bem como monitorar parâmetros críticos que indiquem a necessidade de intervenção e definir a melhor preparação da água de alimentação e do reagente de limpeza. Este artigo aborda: (1) os tipos de deposição em sistemas de ultrafiltração; (2) os indicadores operacionais que sinalizam a necessidade de limpeza; (3) as estratégias de limpeza química (CIP) adequadas para cada tipo de deposição; e (4) as variáveis da água de alimentação que devem ser avaliadas durante o projeto.

1. Tipos de Deposição ou Deposição em Ultrafiltração

Em sistemas de ultrafiltração, a deposição pode assumir diferentes formas: deposição de partículas/coloides (deposição particulado), incrustação/inorgânica, adsorção de matéria orgânica e biodeposição (crescimento microbiano ou formação de biomassa).

1.1 Deposição Particulado/Coloidal

Ocorre pela formação de camadas de partículas sobre a superfície da membrana ou em seus poros. Pode ser parcialmente reversível por contralavagem.

1.2 Incrustação/Inorgânica (Scaling)

Deposição de sais minerais e metais, como carbonatos e óxidos. Requer limpezas químicas ácidas ou agentes quelantes.

1.3 Deposição Orgânica

Adsorção de compostos orgânicos (ácidos húmicos, proteínas etc.) que formam camadas gelificadas e exigem soluções alcalinas ou oxidantes para remoção.

1.4 Biodeposição

Desenvolvimento de biofilmes microbianos sobre a membrana. Exige combinações de agentes alcalinos e oxidantes (ex.: NaOH + NaClO).

2. Parâmetros Operacionais que Indicam Necessidade de Limpeza

  • Fluxo de permeado (LMH): queda de 10–20% indicam necessidade de limpeza.
  • Pressão Transmembrana (PTM): aumento contínuo sugere deposição.
  • Recuperação de Fluxo (FR): FR < 80% após contralavagem indica deposição persistente.
  • Qualidade do Permeado: aumento de turbidez ou COT indica contaminação da membrana.
  • Frequência de Contralavagem: aumento de frequência revela acúmulo de deposição.

3. Estratégias de Limpeza Química (CIP)

A limpeza química é indicada quando os métodos físicos não restauram o desempenho. A escolha da solução depende do tipo de deposição predominante, as concentrações dos produtos químicos utilizados durante o CIP deverão estar de acordo com aquele fornecidas pelos fabricantes de membrana.

3.1 Preparação do CIP

  • Isolar a unidade e realizar pré-lavagem com permeado.
  • Ajustar temperatura (25–40 °C) e pH da solução conforme tipo de membrana.
  • Garantir enxágue completo e descarte adequado do efluente de limpeza.

3.2 CIP para Deposição Inorgânica

  • Soluções Ácidas: ácido cítrico ou clorídrico diluído.
  • Quelantes: citrato de sódio ou EDTA.
  • Sequência Recomendada: alcalina → ácida.

3.3 CIP para Deposição Orgânica

  • Soluções Alcalinas: NaOH + NaClO.
  • Detergentes ou Enzimas: quando há proteínas ou óleos.
  • Sequência Recomendada: alcalina/oxidante → enxágue → ácida.

3.4 CIP para Biodeposição

  • Limpeza alcalina (NaOH) seguida de oxidante (NaClO) ou biocida.

3.5 Compatibilidade da Membrana

Verificar tolerância a pH, temperatura e oxidantes conforme o fabricante. Limpezas agressivas podem alterar a hidrofobicidade e reduzir a vida útil da membrana.

4. Variáveis da Água de Alimentação

Identificar previamente as características da água de alimentação permite ajustar a estratégia de CIP e evitar danos à membrana.

Parâmetro Significado e Impacto
Turbidez / Sólidos Suspensos Indicam risco de deposição particulado
COT / DQO Representam potencial de deposição orgânico
Ca, Mg, Fe, Al, SiO₂ Indicam risco de incrustação mineral
pH / Condutividade / TDS Relacionam-se à solubilidade de sais e estabilidade de compostos
Temperatura Afeta viscosidade e taxa de deposição

5. Considerações Finais

O controle de deposição em sistemas de ultrafiltração exige uma abordagem integrada: pré-tratamento eficiente, monitoramento contínuo e planejamento de limpeza física e química. A identificação correta do tipo de deposição, o uso de indicadores operacionais e a análise detalhada da água de alimentação são determinantes para o sucesso do CIP. A compatibilidade química e o histórico de operação devem sempre orientar as decisões para prolongar a vida útil das membranas e assegurar a qualidade da água tratada.

Autor: Joaquim Marques Filho, M.Sc.

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