A influência da temperatura da água no desempenho e vida útil das membranas de osmose reversa

A influência da temperatura da água no desempenho e vida útil das membranas de osmose reversa: aspectos práticos e recomendações de projeto

Resumo

A temperatura da água é um dos fatores mais relevantes no desempenho de sistemas de osmose reversa, influenciando diretamente a vazão de permeado, a pressão de operação, o consumo energético e a vida útil das membranas. Este artigo discute os mecanismos envolvidos, apresenta dados comparativos e fornece recomendações de projeto e operação para diferentes condições térmicas. 

1. Introdução

Sistemas de osmose reversa operam com base na aplicação de pressão para forçar a água a atravessar membranas semipermeáveis, removendo sólidos dissolvidos e contaminantes. Entre as variáveis que afetam o desempenho, a temperatura da água é frequentemente subestimada, embora seu impacto seja significativo tanto na produção quanto na eficiência energética do sistema. A literatura técnica e experiências práticas demonstram a necessidade de considerar essa variável desde o dimensionamento até a operação diária.

2. Fundamentos técnicos

A temperatura influencia a viscosidade da água e, por consequência, a permeabilidade das membranas. A maioria dos fabricantes apresenta os dados de desempenho com base em 25 °C. Para condições diferentes, é necessário aplicar o Fator de Correção de Temperatura (TCF), que ajusta a expectativa de fluxo. A tabela a seguir resume como a temperatura influência na performance da osmose reversa.

Parâmetro Temperatura baixa (< 15°C) Temperatura de referência (25°C) Temperatura alta (> 30°C)
Fluxo de permeado Reduzido (↓ até 30%) Nominal (referência dos fabricantes) Aumentado (↑ até 30–40%)
Pressão de operação Aumentada (↑ para manter o fluxo) Ideal Reduzida (↓ devido à menor viscosidade)
Rejeição de sais Ligeiramente aumentada (↑) Referência (ex.: 99,6%) Ligeira queda (↓ para ~98–99%)
Consumo de energia Aumentado (↑ devido à maior pressão) Nominal Reduzido (↓, se bem ajustado)
Risco de incrustação Menor (fluxo mais baixo) Controlado Maior (↑ se recuperação não for ajustada)
Vida útil da membrana Preservada Esperada (3–5 anos típicos) Reduzida (↑ degradação por calor)

3. Efeitos no desempenho

Com o aumento da temperatura, a vazão de permeado cresce devido à menor viscosidade da água, o que facilita o transporte de solvente pela membrana. No entanto, temperaturas elevadas acima de 35 °C podem acelerar a degradação do polímero da membrana (como poliamida), reduzindo sua vida útil. Em contrapartida, em temperaturas abaixo de 20 °C, o fluxo pode diminuir até 30%, exigindo maior pressão de operação e afetando o balanço energético.

4. Impacto operacional e financeiro

A operação em temperaturas mais baixas implica em aumento da pressão de alimentação para manter a vazão projetada, elevando o consumo de energia elétrica. Já temperaturas elevadas podem levar ao amolecimento do material da membrana, reduzindo sua resistência química e mecânica. Isso implica maior frequência de trocas e manutenções, impactando o custo operacional.

5. Recomendações de projeto

Para regiões com grandes variações térmicas, recomenda-se considerar a temperatura mínima esperada no local para o dimensionamento do número de elementos e da bomba de alta pressão. Quando necessário, o uso de dispositivos de pré-aquecimento ou ajuste de recuperação pode ser uma alternativa. As especificações de membranas do tipo ULP (ultra low pressure) e XLP (extreme low pressure) são relevantes para otimização de sistemas em temperaturas amenas.

6. Conclusão

O impacto da temperatura da água em sistemas de osmose reversa é significativo e não deve ser negligenciado. Considerar essa variável no projeto, operação e manutenção é importante para garantir o desempenho ideal, otimizar o consumo energético e prolongar a vida útil das membranas. 

Referência Marques Filho, Joaquim. Osmose Reversa para Tratamento de Água e Reúso. Curso online. Hotmart.com, 2022.

Autor: Joaquim Marques Filho, M.Sc.

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